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Um mês após megaoperação no Rio que deixou 122 mortos, Claudio Castro recebe homenagem da Rota em SP

Hugo Motta, Tarcísio de Freitas e Claudio Castro durante solenidade do 134º aniversário do 1º Batalhão da Rota de SP, nesta segunda-feira (1° de dezembro ...

Um mês após megaoperação no Rio que deixou 122 mortos, Claudio Castro recebe homenagem da Rota em SP
Um mês após megaoperação no Rio que deixou 122 mortos, Claudio Castro recebe homenagem da Rota em SP (Foto: Reprodução)

Hugo Motta, Tarcísio de Freitas e Claudio Castro durante solenidade do 134º aniversário do 1º Batalhão da Rota de SP, nesta segunda-feira (1° de dezembro de 2025). Reprodução/TV Globo O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), recebeu nesta segunda-feira (1°) uma homenagem das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), um dos batalhões da Polícia Militar de maior letalidade policial da corporação paulista. A concessão da honraria acontece após pouco mais de um mês da megaoperação policial na comunidades da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que deixou 122 mortos. A entrega do tributo faz parte da solenidade de 134º aniversário do 1º Batalhão da Rota. No total, 64 autoridades públicas brasileiras iriam ser agraciadas com a medalha do centenário do 1° Batalhão de Choque da cidade de São Paulo. Entre os homenageados deste ano estavam o ministro do Supremo Tribunal Federal, André Mendonça, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Mota (Republicanos), o deputado federal Carlos Sampaio (PSD) e o ministro do Tribunal de Contas da União Jorge Oliveira. Participaram da entrega da homenagem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário da Segurança Pública Guilherme Derrite (PP), que está de saída oficial da pasta e será substituído pelo delegado Oswaldo Nico Gonçalves. No discurso, Castro elogio o trabalho da Rota em São Paulo, comparando com a do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Rio, dizendo que as duas corporações são para a proteção do que chama de "cidadãos de bem" O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e o presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (Republicanos) recebem homenagem da Rota em São Paulo. Divulgação/SSP “A Rota, assim como o Bope, são a nossa esperança. São a nossa fronteira para defender esses cidadãos de bem", disse. Castro também elogiou a operação que matou 122 pessoas no Rio e disse que "o Brasil não tolerará mais barricada e narco-terroristas". “Hoje vir aqui, sobretudo após a operação contenção no Rio de Janeiro, que devolveu ao cidadão de bem a esperança, devolveu ao cidadão de bem a narrativa de que o nosso país e o nosso estado, e as nossas prefeituras não são do crime organizado. Não são daqueles que deixaram o caminho do bem. As nossas ruas são dos pais, das crianças e dos cidadãos de bem, que acordam todo dia cedo e vão trabalhar”, declarou. “O Brasil não tolerará mais barricadas, controles territoriais. E diga o que quiserem, continuaremos chamando de narcoterroristas. Porque isso que eles são. Se não deu para colocar no texto [da Câmara dos Deputados] nós sabemos bem o que estamos enfrentando”, completou. O governador do Rio de Janeiro também lamentou que o Comando Vermelho tenha exportado criminosos para outros países do mundo que, segundo ele, "é um triste legado do Rio de Janeiro". “Uma matéria hoje no jornal diz que o Comando Vermelho exportou criminosos para oito diferentes países. É um triste legado do Rio de Janeiro, terra de gente boa e trabalhadora, de gente honesta. Foi exportado criminosos, ao invés da nossa cultura”, afirmou. “Temos tanta coisa boa para exportar e, infelizmente, o que saiu do Rio de Janeiro foi uma instituição narcoterrorista para assolar outros cidadãos de bem”, completou. Operação mais letal da história Cenas de guerra: megaoperação contra facção é a mais letal da história do RJ Pelo menos 122 pessoas morreram – 4 delas policiais – e 81 foram presas na megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, em 28 de outubro. Quase 100 fuzis foram apreendidos. Foi a operação mais letal da história do estado, segundo números confirmados pelo Palácio Guanabara. De acordo com o governo fluminense, o tráfico orquestrou represálias em várias partes da cidade, que vive horas de tensão em um cenário de guerra. Barricadas, com veículos tomados ou entulho, foram feitas na Linha Amarela, na Grajaú-Jacarepaguá e na Rua Dias da Cruz, no Méier, entre muitos outros locais. Em função dos múltiplos bloqueios, o Centro de Operações e Resiliência (COR) do Rio elevou o estágio operacional da cidade para o nível 2, de uma escala de 5. A PM mandou colocar todo o efetivo na rua — para tal, suspendeu as atividades administrativas. Veja reportagem do Fantástico sobre a megaoperação Como tudo começou Foi mais uma etapa da Operação Contenção, uma iniciativa permanente do governo do estado de combate ao avanço do CV por territórios fluminenses. Pelo menos 2.500 agentes das forças de segurança do RJ saíram para cumprir quase 100 mandados de prisão. Na chegada das equipes, ainda no fim da madrugada, traficantes reagiram a tiros e com barricadas em chamas. Um vídeo mostra quase 200 disparos em 1 minuto, em meio a colunas de fumaça (assista aqui). A Polícia Civil afirmou ainda que, em retaliação, criminosos lançaram bombas com drones. Outros fugiram em fila indiana pela parte alta da comunidade, em uma cena semelhante à disparada de bandidos em 2010, quando da ocupação do Alemão. Quem são os policiais mortos Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, de 51 anos, conhecido como Máskara, recém-promovido a chefe de investigação da 53ª DP (Mesquita); Rodrigo Velloso Cabral, de 34 anos, da 39ª DP (Pavuna); Cleiton Searafim Gonçalves, policial do Bope; Herbert, policial do Bope. Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho e Rodrigo Velloso Cabral Reprodução Escolas e postos de saúde não abriram. Veja aqui os impactos à população nesta terça. Infográfico - megaoperação contra facção no Rio tem mortos e feridos Arte/g1 Defensoria e Anistia A Defensoria Pública da União e a Anistia Internacional, entre outros órgãos, emitiram notas criticando a letalidade policial. Veja abaixo as notas. Defensoria Pública da União: "DPU repudia aumento da violência e da letalidade policial no Rio de Janeiro As ações resultaram em pelo menos 64 mortes — incluindo quatro policiais — e 81 prisões, segundo dados oficiais, configurando-se como a operação mais letal da história do estado A Defensoria Pública da União (DPU) manifesta repúdio ao aumento da violência e da letalidade policial no Estado do Rio de Janeiro, em especial após a megaoperação, realizada nesta terça-feira (28), nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense. As ações resultaram em pelo menos 64 mortes — incluindo quatro policiais — e 81 prisões, segundo dados oficiais, configurando-se como a operação mais letal da história do estado. A DPU recorda que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADPF 635 (ADPF das Favelas), estabeleceu parâmetros claros para a atuação das forças de segurança pública em territórios vulneráveis, determinando que tais operações devem ser excepcionais, devidamente justificadas e planejadas para minimizar riscos à população civil. O descumprimento dessas diretrizes representa grave violação a preceitos fundamentais e compromete a efetividade do Estado Democrático de Direito. A decisão do Supremo reafirma o dever constitucional do Estado brasileiro de garantir a segurança pública em consonância com a proteção à vida, aos direitos humanos e à dignidade das pessoas, sobretudo da população negra, pobre e periférica — historicamente mais atingida por operações de alta letalidade. Para a Defensoria Pública da União, ações estatais de segurança pública não podem resultar em execuções sumárias, desaparecimentos ou violações de direitos humanos, sobretudo em comunidades historicamente marcadas por desigualdade, ausência de políticas sociais e exclusão institucional. A DPU defende que o combate ao crime deve ocorrer dentro dos limites da legalidade, com uso proporcional da força, transparência na apuração dos fatos e garantia do devido processo legal, em respeito à dignidade da pessoa humana e às determinações da Constituição Federal. Por fim, a Defensoria reafirma seu compromisso com a proteção da vida e com o enfrentamento à violência institucional, mantendo-se à disposição para acompanhar investigações, responsabilizações e medidas que assegurem justiça às vítimas e às comunidades atingidas. Coordenação de Produção de Conteúdo e Imprensa (CPCI)" Nota da Anistia Internacional e outros órgãos parceiros: "Segurança pública não se faz com sangue A operação mais letal da história do Rio de Janeiro, a Operação Contenção, nesta terça (28), expõe o fracasso e a violência estrutural da política de segurança no estado e coloca a cidade em estado de terror. A chacina que se desenrola desde as primeiras horas desta terça-feira (28), nos complexos de favelas do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, inscreve-se em um longo e trágico histórico de matanças cometidas por forças policiais no estado — apresentadas, equivocadamente, como política pública. Até o momento, já são 64 pessoas mortas em uma única operação — a mais letal da história do Rio de Janeiro. A perda massiva de vidas reitera o padrão de letalidade que caracteriza a gestão de Cláudio Castro, governador que detém o título de responsável por quatro das cinco operações mais letais da história do Rio de Janeiro, superando seus próprios recordes anteriores registrados no Jacarezinho (2021) e na Vila Cruzeiro (2022). O que o governador Cláudio Castro classificou hoje como a maior operação da história do Rio de Janeiro é, na verdade, uma matança produzida pelo Estado brasileiro. Ao longo dos quase 40 anos de vigência da Constituição Federal, o que se viu nas favelas fluminenses foi a consolidação de uma política de segurança baseada no uso da força e da morte, travestida de “guerra” ou “resistência à criminalidade”. Trata-se de uma atuação seletiva, dirigida contra populações negras e empobrecidas, que tem no sangue seu instrumento de controle e dominação. Não há nela elementos que efetivamente reduzam o poderio das facções criminosas nos territórios. Pelo contrário: essas ações aprofundam a insegurança e o medo, instalam o pânico, interrompem o cotidiano de milhares de famílias, impedem crianças de ir à escola e impõem o terror como expressão de poder estatal. A morte não pode ser tratada como política pública. Esse ciclo de violência não é acidental: ele decorre de uma estratégia deliberada que privilegia o confronto armado em detrimento de qualquer compromisso com a vida e com a legalidade. Durante seu pronunciamento, o governador ainda tentou responsabilizar a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 635 — a ADPF das Favelas — e as organizações da sociedade civil que atuaram por sua implementação, pela letalidade da operação. Ao fazer isso, ataca o controle das polícias, papel constitucionalmente atribuído ao Ministério Público, e busca deslegitimar o trabalho das entidades que lutam pelo direito à vida nas favelas. Castro ainda atuou politicamente para esvaziar a ADPF 976 no Supremo Tribunal Federal, com o objetivo de liberar as forças de segurança de obrigações legais como planejamento prévio e preservação de vidas. Paralelamente, manteve a lógica de premiação pela letalidade ao sancionar, na nova Lei Orgânica da Polícia Civil, a gratificação por “bravura” — dispositivo que substitui a antiga “gratificação faroeste”, vetada após ampla reprovação social. Ao premiar o confronto e a morte, o governo estimula a mentalidade de guerra e transforma as comunidades em campos de batalha, onde moradores são tratados como “inimigos internos”. O Manual sobre o Uso da Força e Armas de Fogo por Agentes da Segurança Pública, publicado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), estabelece princípios fundamentais que devem orientar toda ação policial: legalidade, necessidade, proporcionalidade, precaução e responsabilidade. As operações conduzidas pelo Estado do Rio de Janeiro violam frontalmente todos esses parâmetros, configurando uma prática sistemática de uso ilegítimo da força letal. O Brasil e o Estado do Rio de Janeiro já foram reiteradamente advertidos pela Organização das Nações Unidas e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre o caráter racista e discriminatório da política de “guerra às drogas”, que define quem morre e quem vive nas favelas e periferias. O Estado fluminense acumula duas condenações na Corte Interamericana de Direitos Humanos — pelas chacinas de Acari (1990) e Nova Brasília (1994 e 1995) — e segue reproduzindo o mesmo padrão de violência. Nos últimos dez anos (2014–2024), 5.421 jovens de até 29 anos foram mortos em intervenções policiais, segundo o Instituto de Segurança Pública. Desde os anos 1990, sucessivos governos ignoram propostas de segurança pública orientadas pela prevenção, pela redução da violência e pelo fortalecimento de direitos. O investimento segue voltado ao confronto, com resultados trágicos e repetidos: mais mortes, mais dor e nenhuma segurança. O que se testemunha hoje é o colapso de qualquer compromisso com a legalidade e os direitos humanos: o Estado substitui a segurança pública baseada em direitos por ações militares de grande escala. Sob o pretexto da “guerra às drogas”, instala-se um estado de insegurança permanente, voltado contra a população negra e pobre das favelas. Não há justificativa para que uma política estatal, supostamente voltada à proteção da sociedade, continue a ser conduzida a partir do derramamento de sangue. A segurança pública deve garantir direitos, não violá-los. As moradoras e os moradores das favelas têm direito à vida, à integridade física e à paz — e isso não é negociável. Rio de Janeiro (RJ), 28 de outubro de 2025. Anistia Internacional Brasil Justiça Global Centro de Estudos de Segurança e Cidadania — CESeC Conectas Direitos Humanos Centro pela Justiça e o Direito Internacional — CEJIL Instituto Papo Reto do Complexo do Alemão Movimentos Redes da Maré Instituto de Estudos da Religião — ISER Observatório de Favelas Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular (NAJUP) Luiza Mahin Movimento Unidos dos Camelôs Grupo Tortura Nunca Mais — RJ Fórum Popular de Segurança Pública do Rio de Janeiro CIDADES - Núcleo de Pesquisa Urbana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Defensores de Direitos Humanos — DDH Iniciativa Direito Memória e Justiça Racial Frente Estadual pelo Desencarceramento — RJ Instituto Terra Trabalho e Cidadania — ITTC Associação de Amigos/as e Familiares de Pessoas Presas e Internos/as da Fundação Casa — Amparar Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares — GAJOP Instituto Sou da Paz Rede Justiça Criminal Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional — FASE RJ Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares — RENAP RJ Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência Casa Fluminense Plataforma Justa" Fotos da operação Megaoperação envolveu cerca de 2.500 policiais civis e militares Jose Lucena/TheNewsS2/Estadão Conteúdo Corpos são transportados em veículo da Polícia Civil após operação contra o CV na Penha, no Rio - 28/10/2025 Mauro Pimentel/AFP Megaoperação contra CV prende mais de 80 no Rio Mauro Pimentel/AFP Policiais do Bope atuam em operação na Penha - 28/10/2025 Aline Massuca/Reuters Fuzis apreendidos em megaoperação nesta terça, no Rio Reprodução Megaoperação no Alemão e na Penha tem apreensão de 93 fuzis e faz número anual bater 686 Reprodução TV Globo Barricadas em chamas em reação à Operação Contenção Reprodução/TV Globo Agentes das forças de segurança em escadaria no Complexo do Alemão Reprodução